Apesar das controvérsias
existentes sobre a origem da capoeira, concluímos que a mesma nasceu no Brasil
em sua forma primitiva, em meio a um processo de acultação, iniciado com o
tráfico dos escravos os quais inconformados com o cativeiro que lhes era imposto,
aproveitaram-se das confusões internas geradas pela invasão Estrangeira em
nosso território no século XVII, fugiram embrenhando-se nas matas onde ergueram
pequenas aldeias afastadas entre si, dominadas mocambos, insignificante a
princípio mais que foram se agrupando, formando os Quilombos os quais
espalharam-se pelo norte, nordeste, avançando os atuais estados do Espírito
Santo, Rio de Janeiro e parte do sul do Brasil; onde seus habitantes já possuiam
umas organizações sociais, capazes de atender as necessidades locais.
Instituíram um chefe, senhor soberano no comando das ações, onde gastam-lhe
todos os direitos, inclusive de julgar e punir até com a morte dos crimes como:
Homicídio, roubo, a fuga dos
Quilombos e outros. Como exemplo, citaremos Palmares, iniciado por cerca de 50
escravos fugitivos que se estabeleceram a princípio nas fraldas da serra da
Barriga em Alagoas, tomando corpo rapidamente, Palmares estendeu-se aos estados
de Sergipe e Pernambuco. Chefiado a princípio, por Ganga Zumba, posteriormente
por Zumbi, o mais valente escravo de quem já se ouviu falar. Palmares chegou ao
apogeu por volta de 1670, quando alcançou uma população de cerca de 50.000
habitantes; produziam milho, feijão, batata doce, banana, cana de açúcar etc,
chegando a comercializar com pequenas aldeias nas proximidades: invadindo e
saqueando outras aldeias e engenhos, matando e vingando-se naturalmente aos
maus tratos sofridos anteriormente por parte do homem branco o qual temendo a
possibilidade de liberdade do negro; o que lhe seria altamente, prejudicial no
campo econômico, resolve exterminar de uma vez com os Palmares. Após várias
tentativas desastrosas dada a bravura dos escravos fugitivos, o então
governador Souto Maior assina acordo com o bandeirante Domingo Jorge Velho em 3
de dezembro de 1691. Que parte no comando de um verdadeiro exercito composto
com mais de mil homens bem equipados, inclusive com peças e artilharia. Apesar
de todo este aparato de guerra, só após mais de 2 anos de sucessivas batalhas
chega Domingos J. Velho a vitória final em fevereiro de 1694, após romper o
cerco dos macacos, último reduto da resistência dos Palmares.
Mesmo tendo sido ferido Zumbi foge
espetacularmente, sendo traído posteriormente por um escravo, ex-componente dos
Palmares, que, quando aprisionado trocou sua vida pela do Rei Negro, informando
seu esconderijo. Finalmente em 1695 Zumbi foi encontrado nas estradas de Recife
morto e decapitado por André Furtado de Mendonça.
Foi justamente neste ambiente de bravuras,
que os escravos fugitivos, sentindo necessidade de defesa contra as investidas
das expedições de caça, criaram naturalmente uma forma da luta que lhes
permitissem enfrentar seus opressores sem receiar suas armas, adaptaram
elementos de sua cultura as condições aqui encontradas, e criaram a Capoeira,
palavra de origem Tupi, que significa caã-mata + puêra = que já foi, que se
encontra extinta. Era uma forma de defesa onde predominava a coragem, rapidez
de raciocínio e a agilidade, qualidades adquiridas no dia das selvas africanas.
Consistia em saltos rápidos e desnorteantes, mudanças de posicionamento do
corpo cabeçadas, chutes e peitadas movimentos efetuados de forma característica
da luta com a qual os escravos colocavam-se em condições de enfrentar seus
oponentes. Apesar de contarem com essa forma natural de defesa , alguns
escravos eram aprisionados pelas expedições de caça, trazidos de volta ao
cativeiro, castigados e vigiados severamente. Para evitar possíveis fugas, bem
como o desenvolvimento da Capoeira entre os demais. Assim, para camuflarem seu
meio de defesa, os negros o praticava acompanhado de cântico e palmas,
transformando a temível luta em um lindo espetáculo, onde, jogavam às
escondidas. Esta fase da luta, fez com que pessoas passassem a divulgar a capoeira
como uma simples dança folclórica.
Após a extinção do Quilombo dos Palmares,
a luta já era vista no Brasil como um meio de defesa e ataque, principalmente
na Bahia, Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro e demais lugares onde haviam
escravos lutando pela liberdade. Foi justamente nestes locais onde brotou o
mulato, fruto da miscigenação racial entre brancos e negros. O qual, dotado de
maior capacidade de adaptação social que os seus irmãos negros, e com um melhor
potencial físico do que os seus ancestrais brancos; fatores preponderantes no
auxílio aos mulatos que conseguiram enriquecer a Capoeira com novos golpes e
uma movimentação constante; fazendo com que nessa nova fase os seus praticantes
passassem a ser temidos pela sociedade.
Por volta do século XIX, no período
compreendido entre a Abolição da Escravatura e Proclamação da República, a
Capoeira entrou na fase mais decadente da sua história, onde políticos e
pessoas inescrupulosas, passaram a usar ex-escravos capoeiristas que
continuaram sob seu julgo, para promoverem distúrbios em comícios ou para
eliminar um seu desabafo. Em 11/10/1890(Código Penal Brasileiro) estabelecia
pelo decreto nº 487 em seus artigos 399, 400, 401, 402, 403 e 404 e seus
respectivos parágrafos proibição a sua prática estabelecendo penas que chegavam
até a 3 anos de reclusão, podendo esta pena ser aplicada em dobro em caso de
reincidência e deportação para estrangeiros após o cumprimento da pena. O então
presidente Mal, Deodoro da Fonseca, convida Sampaio Ferraz para chefe de
Segurança Pública dando-lhe a carta branca no trato com os capoeiristas. O
mesmo inicia uma verdadeira guerra prendendo-os e enviando-os para ilha de
Fernando de Noronha para execução de trabalhos forçados.
Apesar desta campanha
desenfreada contra os capoeiristas, ele apenas conseguiu que a Capoeira saísse
das ruas para os territórios e cidades do interior, onde se camuflou, subindo
posteriormente infiltrando-se nos grandes centros, quando em 1907 publicou-se
um opúsculo intitulada O guia de Capoeira, sob autoria de alguém desconhecido
que se intitula ODC. Alguns rapazes de família distintas, iniciaram a prática
da Capoeira em algumas cidades do Brasil. Em Salvador na Bahia, surgiu o Sr.
MANOEL DOS REIS MACHADO, o famoso e insuperável “MESTRE BIMBA” que, após
profunda observação da luta, da qual era exímio praticante, revolucionou os
meios capoeiristicos, introduzindo na mesma, a exemplo do que fizeram os seus
irmãos mulatos na época do Brasil Colônia vários movimentos oriundos de outras
manifestações culturais da região, regulamentou a sua prática, criou um método
de ensino a base de seqüências de golpes para facilitar o aprendizado, dividiu
a capoeira em estágios, que classificava os alunos em calouros, doutorandos,
formados, especializado e finalmente mestres, graduação estas cujo símbolo era
nas cores: azul, vermelho, amarelo e finalmente branco.
Por fim, modificou o
nome da luta de Capoeira Angola, para luta Regional Baiana. Houve então muita
resistência por parte dos demais mestres de capoeiras existentes na época. Os
quais foram vencidos pelo argumento lógico, ou na roda de Capoeira pelo mestre
BIMBA, que não conheceu o sabor da derrota.
Surgiu então na Bahia, mais precisamente
em Salvador um novo tipo de Capoeira, a Regional, composta por todos os
requisitos para o seu conhecimento como esporte. Finalmente em 1972, com a
aprovação do regulamento técnico da luta pela CBP isso tornou-se realidade.
Perseguida nos Quilombos, perseguida na
República, a Capoeira prosseguiu sua marcha até os nossos dias, onde finalmente
o seu valor vem sendo reconhecido, não só como meio de defesa pessoal mas, como
um desporto capaz de competir lado a lado, com os demais existentes, tendo a
vantagem ainda de se fazer acompanhar por um fundo musical dos mais belos, que
proporciona um estímulo natural durante sua prática, permitindo total relax e
expressão corporal resultado de uma sincronia psíco-física perfeita.
Descoberta, que motivou as autoridades educacionais brasileiras há procurar uma
forma de introduzir a Capoeira nos estabelecimentos de ensino a nível de 10, 20
e 30 graus, luta esta que vem obtendo êxito a partir de 1980, principalmente no
Estado da Bahia onde a Secretária da Educação e Cultura representado pelo
Departamento de Educação Física fez um trabalho de base criando uma coordenação
de Capoeira e determinando a fundação de pólos para a prática desta modalidade
desportiva nos Colégios Edgar Santos, Duque de Caxias e na Vila Militar do
Bonfim. Nestes centros para a prática da Capoeira, agruparam-se cerca de
trezentos alunos de mais ou menos trinta estabelecimentos de Ensino de 1º e 2º
graus os quais vem participando de torneios e campeonatos de Capoeira de acordo
com o calendário esportivo do Departamento de Educação Física.
Mas, acreditamos que o maior avanço
sofrido pela Capoeira, foi a sua introdução no curso de Educação Física da
Universidade Católica de Salvador, em agosto de 1982, como disciplina
componente do currículo, para alunos de ambos os sexos. O que sem dúvida
nenhuma vem preparando recursos humanos capazes de em um futuro bem próximo,
transformar a Capoeira em esporte de massa, realizando assim um sonho de muitos
brasileiros amantes dessa arte. Que é sem dúvida alguma, a única contribuição
Brasileira para a área gimo Desportiva Mundial.
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